Nova York faz a primeira semana de moda para mulheres gordas
Modelo exibe vestido da coleção de verão. Nos EUA são 40 milhões de mulheres acima do peso
As gordinhas tiveram sua revanche no final do mês passado: ganharam uma semana de moda só para elas e dominaram uma passarela na qual estavam vetados manequins menores que 44. Após cinco anos de negociações e preparativos, a cidade de Nova York sediou o primeiro Full Figured Fashion Week da história (em dialeto politicamente correto, isso significa Semana de Moda para Gordos). Foram três dias de desfiles e debates sobre o presente e o futuro da indústria da moda GG, da qual participaram estilistas, profissionais de marketing e um curvilíneo e antenado público feminino, cansado das roupas caretas que costumam encontrar nas lojas para seu manequim.
Foi graças à mobilização desse grupo de mulheres, as chamadas “fatshionistas” (trocadilho com as palavras fat, que significa gordo em inglês, e fashionistas, pessoas ligadas em moda), que o evento finalmente saiu do papel, organizado pela empresária e ex-modelo plus size Gwendolyn DeVoe. “Não entendo por que as pessoas acham que não ligamos para moda. Compramos tantas roupas quanto – ou ainda mais do que – as magrinhas”, diz. São 40 milhões de mulheres acima do peso apenas nos Estados Unidos, que gastam US$ 25 bilhões por ano em roupas, um quarto da venda total do produto naquele país, segundo a American Demographics. De olho nesse filão mal explorado, a indústria de moda plus size americana começa a dar os primeiros sinais de expansão. Algumas grifes de moda jovem como a GAP e a Forever 21 acabam de lançar suas linhas extragrandes. E a própria Fashion Week para gordinhas também dá sinal de um interesse crescente nesse rechonchudo mercado.
No Brasil, onde 40% das mulheres estão acima do peso e 13% são obesas, as que vestem manequim acima de 42 têm a mesma dificuldade que as americanas. Para comprar roupas que não se pareçam com as de suas avós, precisam recorrer a lojas específicas, que ainda são poucas e mais caras que as que vendem o tamanho padrão. E quase ninguém fica sabendo que essas grifes existem, devido à falta de divulgação. Esse foi um dos motivos pelos quais a consultora de marketing Renata Poskus, de 26 anos e manequim 44/46, resolveu criar o blog Mulherão, no qual divulga marcas plus size descoladas e dá dicas de estilo e moda para as garotas curvilíneas. “Se eu entrar em uma loja de departamento onde as outras meninas de minha idade entram, não encontro nada”, diz ela. A modelo plus size Mayara Russi Alves, de 20 anos, manequim 48/50, também acha que a oferta de moda para gordinhas está melhorando, o que já se reflete em sua profissão. “Quando comecei como modelo, há cinco anos, fazia um ou dois trabalhos por mês. Atualmente faço seis”, afirma.
Tanto Renata quanto Mayara concordam que o mercado ainda precisa melhorar muito para satisfazer esse público – o que não deve ocorrer tão cedo. A consultora de moda Eloysa Simão diz que a indústria de moda brasileira não se interessa por esse setor porque teme incentivar a obesidade, que é um problema de saúde pública. A mesma indústria, porém, abraça a magreza doentia das modelos, que faz propaganda da anorexia. Outra consultora de moda, Andréia Miron, diz que o problema é mais prático: “A indústria de moda quer vender sonhos e estereótipos desejados pelas pessoas. Como o ideal estético atualmente é a magreza, há motivo para a resistência aos tamanhos maiores”.
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Marcadores: Marcelo Borghes
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